Apresentação

As ideias são o território do caos

Há muito tenho para mim que a mais eficaz das dominações é aquela em que há convencimento ideológico. Nela, o dominado pensa que é dominador, e acaba por tornar-se aliado na defesa das ideias dominantes, seus códigos éticos e morais, e seus inúmeros desdobramentos. Toda essa parafernália serve apenas aos propósitos do grupo que a elaborou e instituiu. Você pensava que era pelo bem comum?

Claro, nunca faltam argumentos que justificam e explicam a nobreza dos princípios fundadores de determinado conjunto de ideias. No entanto, todas as justificativas recaem no mesmo problema: o ponto de vista. Pois é, todos nós gostamos de defender nosso próprio estilo de vida, os princípios que norteiam nossas ações individuais e coletivas. E nos esquecemos que nossos argumentos foram construidos com base em nossas experiências. E nossas experiências são formadas num combinado de perspectiva social, econômica, histórica, geográfica, cultural, religiosa, familiar... Portanto, não são universais.

Não há código universal que respeite os princípios de todo o mundo ao mesmo tempo. Que não vá ser objeto de objeções. Não existe receita para pensar, nem linha de pensamento mais correta. Tentar instituir um código universal, ou uma corrente de pensamento da qual todos temos que compartilhar, não passa de uma ditadura do pensamento. Por mais nobres que sejam as intenções de seus idealizadores, eles não serão menos vis que qualquer tirano. A homogeneização só seria conseguida a duras penas. Então vai vir alguém e propor: cada um pensa do jeito que quiser e faz o que quiser. E eu vou responder: mas não ter regras também é uma regra. Difícil escapar, não?

Apesar disso, a proposta é tão tentadora que desafio a se identificar aqui aquele que nunca pensou no quanto se beneficiaria dela. Como seria bom que nenhum vizinho reclamasse do meu som alto. Que todos gostassem de animais e ninguém reclamasse quando meus gatos resolvem fazer serenatas. Que ninguém escutasse funk e axé. Que todos colocassem a vida das árvores acima da construção de hidrelétricas...

Dizem que uma história é como uma moeda: sempre tem dois lados. Eu diria que uma história está mais pra um poliedro multifacetado e irregular. Quanto mais você revirá-lo, mais perspectivas se revelerarão a você. Sempre haverá os que tentem transformá-lo em esfera polida, prontos a justificar tudo sob um único ponto de vista: o SEU. Aqui estou justificando o meu. Cada um vai interpretar este texto de acordo com o seu. As ideias são o território do caos.

Mari
________________________________________________________________________

A vida talvez seja a coisa mais caótica que existe. Muita gente crê em destino, em intervenção, em sorte ou em azar. Mas nada mais surpreendente e verdadeiro que o acaso. O acaso faz da vida o caos que ela é. Bagunça nosso equilíbrio e transforma nossa rotina. Transformar o acaso em oportunidade e as oportunidades em sucesso é o desafio!

Cada um luta o tempo todo pelo seu espaço, pela atenção dos outros, pelos meios de produção, por riqueza, bem-estar material, afeto, enfim, por aquilo que alimente e dê sentido à sua vida. O mais difícil de tudo é perceber que não há um certo ou errado nisto, e que cada um estipula seus próprios limites. Não há verdades universais (o que é um paradoxo por si só),  mas há opiniões e pontos de vista.

O homem desenvolveu regras para viver em sociedade, mas estas perdem o sentido quando atingimos situações extremas. Não há tirania que permaneça sem apoio da população e não há democracia em sentido estrito que não esteja edificada em mentiras. Por isso temos a sensação de que as coisas não funcionam como deveriam. E não funcionam mesmo. A distância entre "idea" e "praxis", aqui tomadas no sentido de ideia e prática, são cada vez maiores quão maiores são as ambições envolvidas.

Diante desta perspectiva, os pessimistas diriam que o sujeito corrompe e é corrompido pela sociedade. Os otimistas diriam que é a dinâmica da transformação em busca do bem comum. Aqueles que não vivem em nenhuma destas nuvens diriam simplesmente que é a roda girando, o que mostra que, às vezes, não tomar posição, já é ter uma posição.

E mesmo assim, diante deste quadro, venho aqui defender aquilo que considero que pode haver de mais legítimo e caótico no homem. O direito de pensar e agir conforme seus princípios.

Rafa

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | cna certification